LÍGIA GUERRA

Por que carrego doçura na alma e asas nos pés?
Porque sinto a vida além do óbvio.
Porque enxergo sol em dias de chuva.
Porque amo até mesmo o desamor.
Porque acolho cada gesto com os braços do coração.
Porque perfumo o caminho das estrelas.
Porque componho alegria na poesia da tristeza.
Porque desejo colorir a vida com olhos de fé!

* Lígia Guerra*

domingo, 26 de abril de 2015

Liberte-se das Margens...


Existe um momento na vida em que você descobre que todos querem lhe emprestar um jeito de ser, agir ou pensar. Sempre tem alguém a espreita tentando vender ou convencer sobre uma ideologia, uma religião, uma dieta, um curso ou um modo de vida. 

Alguns dirão que desejam compartilhar um caminho que acreditam com aqueles que amam. Pura hipocrisia. Quem ama não impõe, não quer convencer. Ama. 

O grande problema é que quanto mais uma pessoa pensa, mais perigosa ela se torna. Ela incomoda. Passa a ser uma ameaça aos sistemas, às engrenagens políticas, às crenças, às ideologias baratas, ao comodismo. Ela sabe que todo agrupamento em maior ou menor grau a aprisionará de alguma forma. Um ser humano encarcerado enxerga apenas uma parte do cenário da existência. Enquanto aquele que pensa é uma chama viva que pode queimar todas as estruturas que tentam lhe aprisionar. 

O sábio, é livre! Mas as pessoas em geral têm medo da liberdade. Tal qual o leito de um rio, elas precisam de margem, de contenção, de agrupamentos para se sentirem seguras e poderosas. Precisam fazer parte de algo maior e ironicamente esquecem o quanto já são grandes. Qual diferença faz a minha religião, o meu peso, a minha conta bancária, a cor da minha pele, o ano do meu carro, o meu sexo ou o meu estado civil? 

Caráter não se mede com nenhuma dessas regras, tampouco a felicidade. Ainda assim as pessoas continuam procurando suas margens, suas tribos, suas seguranças voláteis. 

O preconceito ganha força exatamente nesse ponto. Enquanto posso julgar e apontar o outro como um modelo do que não deu certo… Também posso ficar alienado da minha própria condição de precariedade emocional, do meu lado sombrio. 

Assim a cenosidade das relações mascara as nossas frágeis ‘qualidades’. Diverte o nosso ego. Alimenta nossa imaturidade afetiva. Com o tempo nos diluímos no autoengano. Aprendemos a “importância” de controlar o que os outros pensam e imaginam sobre nós, ao invés de nos preocuparmos sobre a qualidade das emoções que despertamos a nossa volta. 

Sutil, porém abismal a distância que separa essas duas dimensões. Nessa bifurcação das emoções, alguns optam por continuar suas trilhas como rios. Outros preferem correr o risco. Libertam-se das margens. Transformam-se em mar. Aprendem (a)mar.

- Lígia Guerra -


Um comentário:

Maresia disse...

Um belissimo texto, muito atual, focando aspetos cotidianos.

Parabéns!