Entrevista para o Jornal "Hoje em dia" de BH

O título “O Segredo dos Invejáveis” (Editora Gente), pode induzir o pretenso leitor a fazer uma interpretação equivocada. Afinal, muita gente pode ser levada a pensar que a obra trata dos segredos de ricos e famosos em suas “ilhas de prosperidade”. Nada disso. A autora curitibana, Lígia Guerra, convida o leitor a fazer uma reflexão ao passear pela trajetória dos seres mais comuns, mas que têm soluções criativas para grandes problemas do cotidiano“.

Por

Roberta Moreira

Editora Adjunta do "Jornal Hoje em dia" de Belo Horizonte.

1)Você trata em seu recente livro "O Segredo do Invejáveis" do poder de atração/persuasão das pessoas carismáticas. Por outro lado, também fala daquelas que, muitas vezes não conseguem sequer serem percebidas. Qual é o segredo de um e o que falta ao outro?

R- Interesse genuíno pelo mundo e pelas pessoas. Eu não me refiro ao interesse banal das fofocas e da bisbilhotice sobre a vida alheia, tampouco sobre as reclamações sobre o governo, a crise ou a falta de oportunidades melhores para sobreviver, quem se preocupa com isso jamais servirá de inspiração para ninguém. Refiro-me sobre como cada um de nós pode realmente colaborar, dentro das próprias possibilidades, para agregar valor à vida dos demais. Os invejáveis são pessoas comuns, mas que fazem uma enorme diferença positiva no mundo, são solidários, costumam ter soluções criativas para os problemas cotidianos e não perdem tempo com mau humor e reclamações. Eles vivem as suas próprias vidas com intensidade e naturalmente tornam-se especiais em seu meio, independente da posição social que ocupem, do quanto possuam em suas contas bancárias ou de fama. Aliás, inúmeras pessoas famosas estão muito longe de serem pessoas invejáveis.

2) Quais são as pessoas que conseguem atrair as outras como imãs? Quem você destacaria no mundo com características de personalidade e carisma marcantes? Para o lado do bem e do mal, por exemplo, Ghandi, Jesus Cristo, Hitler, fanáticos, etc...

R- Realmente, todas essas pessoas que você citou possuíam características especiais, porém utilizadas de formas nem sempre positivas, como no caso de Adolf Hitler que com as suas teses racistas e anti-semitas devastou a vida de milhares de pessoas em todo o mundo. Atualmente continuamos encontrando estes contrastes. Ironicamente percebemos potencial em pessoas que destroem o seu meio, um exemplo são os traficantes, eles têm o ‘crime organizado’. Imagine se os traficantes decidissem usar essa “organização” para ajudar a sociedade, como todos nos beneficiaríamos. Infelizmente eles optaram por jogar uma possível capacidade construtiva no lixo e a transformaram em um processo destrutivo para muitos. Em contrapartida existem pessoas que mesmo diante da falta de recursos fazem toda a diferença, como é o caso da Flordelis dos Santos de Souza, uma líder comunitária em Jacarezinho, subúrbio do Rio de Janeiro que, depois de salvar o filho das mãos de traficantes, passou a dedicar-se a essa causa. Há quinze anos ela salva crianças do tráfico e cuida com muito amor e dedicação de quatro filhos biológicos e de quarenta e seis filhos adotivos. A sua história já virou filme e em breve estará nos cinemas. O carisma ajuda, mas um invejável de verdade possui muito mais do que carisma, ele tem caráter, atitude, ética, empatia, comprometimento e fé. A sua energia atrativa independe de dinheiro, ele não subjuga ninguém, não utiliza de violência. Buda, Jesus Cristo e Gandhi são exemplos de invejáveis, eles não usaram força, ameaça ou poder, mas amor, coragem e tenacidade para darem sentido às suas vidas e às de outras pessoas.

3) Você pode fazer um paralelo do carisma entre homens e mulheres "invejáveis"?

R- Homens e mulheres tem uma forma diferente de ver e tratar as situações cotidianas. As mulheres costumam ser mais empáticas e analíticas e os homens mais objetivos e pontuais, eles utilizam o seu carisma por vias diferentes. No entanto, tenho percebido que os homens e as mulheres invejáveis têm características comuns: Eles fazem das adversidades degraus para o seu crescimento, lutam por seus sonhos sem buscar a aprovação das pessoas, não nutrem sentimentos de inveja, possuem uma forte relação com Deus, não são preguiçosos e se recriam constantemente, tanto no âmbito pessoal quanto no profissional. Se existe um conceito que não podemos classificar por gênero é o conceito do invejável. Ser invejável é uma escolha que está ao alcance de todos nós.

4) Quando alguém lhe pergunta como se tornar um "invejável", qual é a sua receita?

R- A minha receita é não ter receitas, é quebrar padrões. Nós vivemos em uma sociedade que tem receitas e ingredientes demais, estamos parecendo bolos vivos. É um absurdo a quantidade de livros e artigos que tratam da felicidade em passos e em programas, isso é pobre demais! São doze passos para o sucesso... Programas de ‘X’ semanas para sua vida mudar radicalmente... Perca oito quilos em 14 dias... Socorro! Isso no máximo cria mais ansiedade e gera mais frustrações, pois ninguém consegue construir nada sólido a partir de bases tão superficiais. Ser invejável é você cuidar do corpo que você tem por você, pela sua saúde e bem estar e não para mostrar aos outros. Ser invejável é chegar em casa com um sorriso mesmo depois de um dia super estressante, é amar a sua família apesar das suas imperfeições, é acreditar no amor mesmo diante do excesso de individualismo que insiste em nos assolar. Ser invejável é ver beleza fora dos padrões pré-estabelecidos, olhar o mundo com novos olhos, é sermos felizes com o que temos e não com o que gostaríamos de ter.

5) Uma de suas palestras tem como tema "A escravidão da comparação: uma armadilha para a felicidade", nela o que você aconselha em um mundo onde ter é ser?

R- A olharmos mais para dentro de nós mesmos. A janela do mundo está muito convidativa, são capas de revistas e outdoors com pessoas sempre de bem com a vida, novelas em que a mocinha sofre, mas no final sempre casa com o mocinho, porém ninguém mostra a rotina que eles terão que enfrentar após ‘o felizes para sempre...’ O palco da Internet é um outro exemplo em que todos representam personagens perfeitos. Todas essas ilusões se não forem analisadas nas suas devidas proporções nos trazem um gosto amargo, é como se todos participassem de uma festa para a qual não fomos convidados. Para entender melhor essa dinâmica basta percebermos o número de garotas anoréxicas que arriscam suas vidas para seguir um padrão absurdo de “beleza”, garotos que se sentem inadequados por não serem populares, mulheres que optam pela anfetamina para emagrecer, independente do preço que o corpo pagará por essa opção. Homens que só conseguem perceber o próprio valor se puderem conquistar determinados bens que servem como demonstração do quanto são bem sucedidos. Tudo isso ocorre devido à comparação, por olharmos demais para a grama do vizinho, para a vida daqueles que supomos que sejam bem sucedidos, mas que muitas vezes vivem em verdadeiros infernos interiores. Enquanto isso as nossas vidas passam, não as vivemos com a plenitude e a alegria que poderíamos, pois perdemos tempo demais olhando para o lugar errado.

6) Vamos falar um pouco sobre um artigo recente em que você fala das dificuldades da mulher em exercer vários papéis em seu cotidiano, como mãe, mulher, trabalhadora, esposa. Como se libertar da algema do perfeccionismo? Essa busca da perfeição é inerente ao papel. Não querer decepcionar marido, filho, patrão, etc?

R- A palavra é exatamente essa, decepcionar. As mulheres estão profundamente prensadas nessa engrenagem. Desde pequenas somos criadas para sermos bonitinhas, educadinhas e certinhas... Meninas de família! No entanto, ninguém nos prepara para todos os papéis que teremos que enfrentar. Assim nasce a confusão, perfeição é igual a aceitação. Temos que ser sensuais, porém recatadas, bonitas mas não peruas, inteligentes mas submissas. Até a maternidade que era tão respeitada entrou nessa engrenagem, são mulheres com bebês recém nascidos de trinta, quarenta ou sessenta dias, atormentadas porque ainda não emagreceram tudo que ‘deviam’ ou, porque ainda não se sentem dispostas a reassumirem as mesmas atividades que exerciam com tanta naturalidade antes do nascimento do bebê. Ninguém consegue equilibrar tantos pratos ao mesmo tempo, as exigências são muitas. O caminho é cobrarmos menos de nós mesmas, não deu para arrumar a casa? Paciência. Não vai dar tempo para preparar o almoço? Tudo bem, um dia na vida ninguém vai morrer por comer um lanche ou uma comida pronta. O peso ainda não é o ideal? Tire vantagem dos seus outros atributos, afinal, qual de nós não conhece mulheres totalmente fora dos padrões com parceiros maravilhosos? Menos é mais, isso vale para roupa, para gastos e para o estresse.

7) Como manter a sanidade enquanto o check-list de obrigações da mulher só cresce?

R- Procurando ser mais solidárias e afetivas com nós mesmas. As mulheres tendem a priorizar as necessidades alheias antes das próprias, com isso acabamos ensinando as pessoas que nos rodeiam que somos fortes, invencíveis e que não precisamos de ajuda nem de colo. Assim, bancando as super heroínas vamos agonizando entre os papéis que herdamos e aqueles que assumimos, voluntariamente, em nossas vidas. Precisamos entender que para sermos amadas não precisamos dar conta de tudo e de maneira perfeita. Aliás, acredito que seja justamente o caminho contrário, as pessoas ao nosso redor poderão nos amar mais e verdadeiramente, na medida em que se sentirem necessárias e importantes para nós. As mães têm um papel vital nessa engrenagem, o de ensinar às suas filhas que elas podem ser felizes sendo quem são e não procurando simplesmente corresponder as expectativas alheias. Do mesmo modo devemos ensinar aos filhos o papel importante que eles têm na vida das mulheres, pois uma grande parte dos homens de hoje não sabe como se relacionar com as mulheres. As mulheres não podem confundir humanidade com frescura, aprender a dividir as nossas angústias com os parceiros, a pedir ajuda aos colegas de trabalho, a delegar mais tarefas aos filhos e a dizer não, sem culpa, é fundamental. Aliás, um dos aspectos mais importantes de um invejável é o de não alimentar as culpas, pois elas tiram o foco da nossa energia. Sem culpas aprendemos a reservar tempo para nós mesmas, desenvolvemos o equilíbrio interior que é vital para o equilíbrio exterior.

8) Alguém não deveria escrever também sobre a necessidade do homem ser mais parceiro e contribuir para que as tarefas em família fiquem mais suaves?

R- É exatamente sobre essa nova dinâmica entre homens e mulheres que eu estou trabalhando no meu novo livro. Homens e mulheres querem muito ser felizes em todos os níveis e merecem! No entanto, não é apenas uma questão do homem nos ajudar mais com as tarefas, mas como fazer com que isso seja espontâneo, verdadeiro por parte deles. É preciso que o homem entenda que ele não está colaborando, mas que internalize que a casa também é dele, que as obrigações domésticas também lhe pertencem de fato. Quando o homem compreender isso, naturalmente perceberá que a sua esposa estará mais disponível para ele, pois não estará tão sobrecarregada. Uma mulher que tem um parceiro invejável ao seu lado é uma mulher mais feliz e, mulheres felizes, como todas sabem, são capazes de fazer loucuras pelo seu amor!